domingo, 18 de julho de 2010

FALANDO SOBRE A VIOLÊNCIA

O Fórum de Quilombos Educacionais da Bahia - FOQUIBA realizou no dia 17 de abril deste ano, no Colégio Estadual Elysío Athaide – Cajazeiras V, a 2ª Formação de Professores com o tema: Cultura da Violência: Vivências Cotidianas, ministradas pelo mestre em Psicologia Valter da Mata e a Diretora Pedagógica do SteveBiko, Jucy Silva. Ambos abordaram sobre os diversos tipos de violência dentro do ambiente educacional ,com um recorte para o racismo, homofobia e gênero.
Eles não se limitaram apenas em explanar sobre o tema, os mesmos mostraram estratégias adquiridas ao longo de suas experiências para amenizar o problema.

Confira texto de Valter DAMATA utilizado na formação

FALANDO SOBRE A VIOLÊNCIA

Como é de conhecimento de todos, o ser humano necessita viver em sociedade para sobreviver, dessa forma, ele encontra-se em permanente interação com os seus semelhantes. Nesse processo, é necessário que sejam criados aparatos que regulem a ordem social. E isso significa, em grande parte, controlar a violência.

A violência é a mais grave ameaça à vida em sociedade, à vida em comum, na medida em que se caracteriza pela possibilidade de destruição do homem e da humanidade do homem, pelo próprio homem.

Muitas pessoas utilizam os termos agressividade e violência enquanto sinônimos. Entretanto gostaria de pontuar uma diferença. Entendo a agressividade como uma característica inata a todos os animais, indispensável à sobrevivência das espécies, ou ainda comportamentos que chamamos de confiantes, vigorosos ou empreendedores.

Entretanto a violência é um comportamento físico ou verbal que visa fazer mal a outrem, quer seja um semelhante ou um animal. O comportamento violento tem na sua origem uma idéia de não alteridade, de não respeito, ao alvo que é destinado.

O indivíduo que comete o ato violento coisifica o alvo do seu ato, tornando-os do seu ponto de vista como seres menos humanos, infrahumanos ou simplesmente coisas. Uma vez despossuídos da sua condição de humanidade, o alvo do comportamento violento, que pode ser um indivíduo ou mesmo um grupo social, podem ser tratados e manipulados enquanto coisas.

Existem diversas teorias que tentam explicar o comportamento violento dos seres humanos.

De um lado encontram-se as teorias nas quais a violência é tida como algo inato ao ser humano. Contrariando a filosofia do filósofo Rousseau, que afirmava que a natureza humana possui uma índole bondosa e contente. As teorias de violência inata aliam-se ao pensamento do filósofo Thomas Hobbes, que afirmava que a índole da natureza humana é má, bruta, com um enorme potencial explosivo. As teorias da violência inata responsabilizam unicamente o indivíduo pelo comportamento violento.

Outro grupo de teóricos considera que o comportamento violento é motivado pela frustração. O psicólogo John Dollard afirmava que: “A frustração sempre leva a alguma forma de agressão”. A frustração deve ser entendida como algo impede que alcancemos um objetivo. A frustração é mais forte quando a motivação existente na realização do objetivo é grande, quando esperamos recompensas pelo objetivo, ou quando o bloqueio é completo.

A violência não é dirigida necessariamente para o que originou a frustração. Aprendemos a inibir a retaliação direta, sobretudo quando avaliamos que a fonte pode desaprovar nosso comportamento e nos punir de uma forma ainda mais contundente. Assim sendo, transferimos nossa violência para alvos mais seguros.

A idéia corrente é que a as pessoas que são privadas de determinadas benesses, são mais frustradas e, portanto mais violentas. Estudos revelam que a privação e a violência podem muitas vezes não estar correlacionadas. A frustração não derivaria da privação e sim dos abismos existentes entre as expectativas e as realizações.

Existe também um grupo de teóricos que enxergam que a violência é um comportamento social adquirido, transferindo assim a maior responsabilidade do comportamento violento do indivíduo e colocando-a para a sociedade.

Alguns teóricos afirmam que muitas pessoas desenvolvem comportamentos agressivos ou violentos por causa das recompensas que esses atos lhe conferem. Albert Bandura propõe a teoria da aprendizagem social, onde ele afirma que aprendemos a violência não só experimentando suas conseqüências mas também pela observação do outro.

A vida cotidiana expõe os indivíduos a modelos violentos na família, na subcultura e nos veículos de comunicação.

Na família são rotineiras as punições físicas e gritos às crianças como forma de disciplinar, modelando a violência como um método de lidar com problemas. A cultura machista reproduzida no seio familiar é também um fator que corrobora com a violência. Estudos revelam que devido a essa ideologia, nos Estados Unidos 70% dos jovens envolvidos com problemas de questões de violência advêm de lares onde existe a ausência do pai.

O ambiente social fora do lar também oferece modelos. É o que chamamos de subculturas e tecem a trama social cotidiana que estamos envolvidos. Nas comunidades em que as imagens violentas são admiradas, a agressão é prontamente transmitida às novas gerações. A subcultura violenta das torcidas organizadas, por exemplo, proporciona a seus membros mais novos, modelos de comportamento violento.

Por fim temos a influência da mídia na veiculação de comportamentos violentos. Num domicílio médio, um televisor fica ligado em média por 8 horas diária e cada membro assiste em média, 4 horas dessa programação. As mulheres assistem mais televisão que os homens, assim como os pobres assistem mais que os ricos, as crianças e aposentados mais do que as pessoas que estão em idade de trabalhar e assim também se dá entre as pessoas que possuem pouca instrução em relação aqueles que possuem uma maior escolaridade.

Durante esse período quais são os comportamentos que estão sendo moldados? Não é preciso ser nenhum especialista em programação televisiva para mostrar que a mídia é especialista em veicular em boa parte de seus horários programas com forte conteúdo de violência manifesta ou latente. A cultura da violência não se restringe a programas sensacionalistas de “jornalismo verdade”, ela se estende a telenovelas, programas infantis e em muitas vezes em programas religiosos, onde são defendidas cruzadas contra os “inimigos demoníacos”.

A violência dessa forma se constitui com uma instituição nacional, sendo reproduzida de forma consciente e/ou inconsciente pela maioria da população. Um dos lugares mais afetados pela cultura da violência é a Escola, afinal como parte constituinte da sociedade ela não está imune aos crescentes aumentos dos índices de violência.

Na medida em que a educação necessita de um ambiente tranqüilo que favoreça o processo ensino-aprendizagem, a violência atua como veículo perturbador, afetando perversamente as todas as relações existentes no âmbito escolar.

A violência entrou definitivamente no ambiente escolar e ela e exercida em diversos níveis e por diversos atores sociais. Embora muito tolerada, a violência punitiva, coercitiva e psicológica exercida por professores e gestores, ela também reforça e retroalimenta a ciranda da violência.

Provavelmente uma resultante dessa violência utilizada pelos docentes seja a violência dos alunos para com eles. Se antes os professores eram respeitados e valorizados socialmente, atualmente os profissionais de ensino vêm sendo minados na sua autoestima e autoridade. Baixos salários, salas superlotadas, péssimos equipamentos e até mesmo a capacidade de atualizar-se atuam como fatores que ampliam o descrédito na categoria.

Associado a ideologia do consumo, onde as o indivíduo é reconhecido e respeitado pelo que tem ou per aquilo que consome, o jovem é impelido a reproduzir essa ideologia em atos e pensamentos. O consumo perpassa as relações de amizade, de respeito e afetivas. Pode mais quem consome produtos com alto valor agregado na grife. O importante na vida do indivíduo é ter sucesso, e esse sucesso pode ser medido nas grifes que a pessoa usa, no carro que ele dirige e quantas vezes ele aparece nos canais de mídia.

O consumo torna-se a motivação e religião pós-moderna. A letra do Rap das Marcas, criado pelos MCs Marcelo e Rogério, nomes da cena funk do Rio de Janeiro é ilustrativa:

“A onda do funkeiro meu amigo agora é

De Nike, ou Reebok ou Puma estão no pé

De Bermuda da Cyclone ou então da TCK

Boné da Hang Loose, da Chicago ou Quebra-mar

Outra novidade é o Mizuno que abalou

O tênis é responsa, é só andar muda de cor

Existem várias marcas, você vai se amarrar

By Toko, alternativa, Arte Local ou TCK

Anonimato amigo abala de montão

KK é super shock, mas em amarro na Toulon

Inventaram Le Cheval, que atrás tem uma luzinha

Chinelo trançado da Redley, Topper, Rainha

Sou o MC Rogério, Marcelo sangue-bom

Moramos em Manguinho e cantamos com emoção.”

E na onda do Mizuno que ao andar muda de cor, cá estamos nós discutindo uma mudança de mentalidades. O nosso papel nessa realidade.

Docência é quase sacerdócio, é muita doação. Trabalho que envolve paixão, dedicação e utopia. É necessário antes de tudo estar disponível para observar a realidade que nos rodeia e jamais perdermos a capacidade de se indignar.

Às vezes a violência irrompe num acesso de fúria ou descontrole, motivada pelas imensas possibilidades de raivas represadas ou mesmo comportamentos insanos turbinados pelos mais controversos combustíveis que são as drogas, mas na maioria das vezes a violência dá sinais, ela apresenta sintomas e é necessário que estejamos atentos a eles. Saber das nossas limitações para intervir nos processos dos nossos alunos é fundamenta. Droga por exemplo que exige mais que boa vontade para resolver. Nesses momentos é hora de pedir ajuda, pedir apoio das pessoas e organizações especializadas, para poder melhor ajudar aqueles que tanto prezamos.

Nossa parte é grande, nossa parte é importante. Como profissionais que lidamos com a ponta do problema e portanto vítimas dele, o envolvimento e assertividade e não o descaso e a omissão, são efetivamente são o fazer a nossa parte.

Valter Damata

Psicólogo /Mestre em Psicologia

DISCRIMINAÇÃO POSITIVA: O CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO!


DISCRIMINAÇÃO POSITIVA: O CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO!


Extraído do BLOG - www.capitaomarinho.blogspot.com

A partir desta semana, 06 de julho, a propaganda eleitoral está franqueada em todo o país. Os brasileiros irão exercer o direito de votar e escolher o novo presidente ou presidenta da República, governador(a), senadores(as), deputados(as) federais e estaduais. Os candidatos aos cargos eletivos já poderão realizar comícios, carreatas, passeatas e caminhadas, tudo isso com uma única finalidade: conquistar o voto do eleitor! A fim de granjear os votos dos cidadãos, os candidatos irão apresentar propostas para melhorar o desenvolvimento, quer seja social, econômico, ambiental etc. O quê fazer para desenvolver? Esse é o grande "x" da questão brasileira! Continuar com as políticas públicas em curso? Mudá-las? Reestruturá-las? O quê fazer? A discriminação positiva é a solução para o progresso do nosso desenvolvimento.

Discriminar positivamente é diferenciar de forma privilegiada determinado segmento ou setor da sociedade a fim de amenizar ou reparar distorções e desigualdades. Vários são os exemplos de discriminação positiva na sociedade brasileira. Há discriminação positiva na reserva de vagas para portadores de necessidades especiais em concursos públicos e nas empresas privadas; há discriminação positiva na reserva de vagas para as mulheres nos partidos políticos; há discriminação positiva na reserva de vagas para idosos nos estacionamento públicos ou privados; há discriminação positiva na isenção do imposto de renda para pessoas portadoras de doenças graves, como também existe discriminação positiva nas cotas para negros e para pessoas oriundas de escolas públicas por ocasião do ingresso na universidade.



A discriminação positiva nada mais é do que políticas afirmativas que visam o desenvolvimento do Brasil. É também exemplo de discriminação positiva a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que foi estendido a vários setores da indústria brasileira por ocasião da crise econômica internacional que se iniciou no ano passado. Quando o Presidente resolve isentar o IPI dos produtos conhecidos como de linha branca (geladeira, fogão, máquina de lavar) ou dos automóveis, ele está diferenciando estes setores da indústria de forma privilegiada, a fim de manter aquecida a economia e garantir os postos de trabalhos, ou seja, isso é um exemplo clássico de política afirmativa ou discriminação positiva que tem como objetivo manter o desenvolvimento da Nação brasileira.



Outro exemplo de discriminação positiva foi a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial pelo Congresso Nacional, embora esta legislação tenha sido aprovada com várias restrições em relação a sua proposta inicial. Infelizmente os cortes feitos neste Estatuto se deram pela insensibilidade de alguns parlamentares frente à importância das políticas afirmativas para o desenvolvimento do Brasil, ou mesmo pelo fato de haver parlamentares racistas que não aceitam ver os negros em condições de igualdade com os brancos e mantêm o discurso falacioso da miscigenação racial brasileira diante de números estarrecedores apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em relação a discrepâncias sociais e econômicas existentes entre negros e brancos no Brasil.



Também são exemplos bem sucedidos de discriminação positiva os programas desenvolvidos pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome que teve seu orçamento para programas sociais ampliados de R$ 11,4 bilhões em 2003, para mais de R$ 33 bilhões em 2009. As políticas sociais têm como principal objetivo atender às necessidades de cidadãos que, sem o apoio de estruturas públicas, não conseguiriam exercer os seus direitos. O programa Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social são exemplos de políticas sociais.



O programa Bolsa Família (carro-chefe das políticas sociais do Governo Federal) atinge hoje o universo de 12,4 milhões de famílias brasileiras. Sendo a região nordeste a maior beneficiada do programa, atendendo 5 445 428 (cinco milhões quatrocentos e quarenta e cinco mil quatrocentos e vinte e oito) famílias, em 2008, e com um investimento que chega a quase seis bilhões de reais (R$ 5 625 665 130). Já o programa que beneficia idosos e pessoas com deficiência (Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social) alcançou, em 2009, 3,4 milhões de pessoas com o orçamento total de R$ 17, 6 bilhões. Diferentemente do que muitos pensam, as políticas sociais de transferência de renda estimulam a busca pelo trabalho. Pesquisas demonstram que a transferência de renda cria condições mínimas para que as pessoas procurem um emprego em melhores condições psicológicas e sociais, pois o dinheiro recebido serve também para pagar o ônibus na procura do trabalho e na compra de roupas para uma melhor apresentação pessoal por ocasião de uma entrevista para admissão no emprego.



Estes programas do Governo Federal são exemplos de discriminação positiva que possibilitam um forte impacto sobre a redução da desigualdade e da pobreza. De 1998 a 2008, a pobreza caiu de 41,7% da população brasileira para 25,3 % e a mortalidade infantil caiu de 50,8 óbitos por mil nascidos vivos para 19,3 em 2008. No período de cinco anos, 19,4 milhões de brasileiros ultrapassaram a linha de pobreza, segundo a Fundação Getúlio Vargas que considera pobre a pessoa com renda per capita inferior a R$ 145,00 mensais. Em 2003, o índice de pessoas consideradas pobres somava 28,12% da população, passando para 16,02% em 2008.



A discriminação positiva realizada pelo Poder Público permite alcançar o objetivo de ter uma sociedade que dê oportunidades para todos nas mesmas formas, ou seja, a discriminação positiva vai proporcionar a igualdade entre os cidadãos e consolidar a justiça social. O Brasil, em 2000, juntamente com a comunidade internacional, se comprometeu em: erradicar a extrema pobreza e a fome; universalizar a educação primária; reduzir a mortalidade na infância; promover a igualdade entre os sexos; melhorar a saúde materna; combater a AIDS, malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Por isso, é indubitável que a discriminação positiva é o caminho certo para o desenvolvimento do Brasil no Milênio!

Capitão Marinho.
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